domingo, 2 de novembro de 2008

''Vicky Cristina Barcelona''- o melhor de Woody Allen

Nem mesmo a iminente ''saturação'' após a exibição de tantas obras nesta Mostra Internacional de Cinema podia impedir-me de correr para assistir este novo filme de Woody Allen- ''Vicky Cristina Barcelona''. Eu e a ''torcida do Corínthians'', para falar a verdade...A sala lotada, sem lugares nas poltronas- restou a mim um lugar no chão, bem à frente da tela. E intermináveis minutos buscando a melhor posição. Até o momento em que, corpo alquebrado, decidi passar a hora final de pé, junto a uma das paredes. E não é que, ali, tinha vários lugares???! Bom, mas o sucesso de público não é ''culpa'' do competente diretor norte-americano...Após o sombrio ''O sonho de Cassandra''- uma obra menor se comparado a este ''Vicky Cristina'' e ''Match Point'', dois dos melhores filmes de sua trajetória mais recente- Woody Allen parece ter ''acertado a mão'' novamente. E como...Logo no início do filme trava-se este estranho diálogo entre um espanhol e duas turistas: ''- Vamos para Oviedo. Lá, comeremos pratos deliciosos, beberemos bons vinhos e faremos amor''. - ''Quem vai fazer amor?''- ''Se tudo der certo, nós três''. Com diálogos como este, o belíssimo cenário de Barcelona, e o competente ator espanhol Javier Bardem acompanhado pelo trio de atrizes de grande beleza e altíssimo ''teor sensual''- se é que vocês me entendem- Penélope Cruz, a loira Scarlett Johanson e a inglesa Rebeca Hall, a estória é repleta de surpresas. A coisa é tão bem-feita e verossímil que, em determinada hora, nos perguntamos se aquilo não é uma espécie de ''documentário''. Em um clássico conflito mostrado nos filmes de Woody Allen, a personagem vivida pela atriz Rebeca Hall divide-se entre a simpatia por aquele estranho trio de artistas que fazem amor livremente e apaixonadamente entre si e o maçante noivo norte-americano- incrédulo e assustado com todas aquelas coisas ''estranhas'' que vê...A simpatia do diretor, e a nossa por tabela, vai para aqueles apaixonados e passionais espanhóis, e toda a sua intensidade. Como todo nova-iorquino dotado de certa inteligência, Woody Allen há muito tempo busca fazer a junção entre o ''Velho'' e o ''Novo'' mundo( interessante é que, aqui, os ''velhos'' europeus tem as mentes mais abertas do que muitos norte-americanos...). Belo, divertido, surpreendente por vários momentos, este ''Vicky Cristina Barcelona'' é cinema de primeira como há muito não se fazia. Merece até uma virtual repetição, desta vez sem enfrentar o chão duro- espero...Alcnol.

Casa de sucos em São Paulo- ainda uma raridade...

Enquanto, ao caminharmos pela Zona Sul do Rio de Janeiro, nos deparamos com uma quantidade incomparável de casas de suco, os paulistanos ainda preferem fazer tudo nas padarias. Por este motivo, uma rede nova de casas de suco e sanduíches naturais que pretende instalar-se por aqui é mesmo uma grande novidade. Ainda mais quando a primeira loja- vide foto- está situada nas imediações da Rua Oscar Freire. Será que pega? Será que a preocupação com a saúde ''pegará'' nesta cidade de gente tão apressada? Eu prefiro tomar o meu suco em locais como este, sem sentir o cheiro de frituras ou de ''sandubas'' gigantescos. Mas, por enquanto, é só uma loja. E, no dia-a-dia, resta-nos ainda pedir os nossos sucos nas ''padocas'' ou ''botecos'' tão abundantes na maior cidade do país. Já no Rio de Janeiro...

Melhor do fim-de-semana nos jornais- debate no suplemento ''Aliás'', do ''Estadão''...

A Folha bem que tentou e, além de um caderno exclusivo sobre as eleições americanas, ainda dedicou boa parte do suplemento ''Mais'' ao tema. Mas o melhor deste final-de-semana nos jornais é, sem dúvida, o debate entre o economista Eduardo Gianetti da Fonseca e o psicanalista Tales Ab'Sáber- que inaugurou a série ''Diálogos Aliás'' do jornal ''O Estado de São Paulo''. O tema? Claro que só podia ser a Crise Econômica...A seguir, alguns trechos( a fonte é o ''Estadão'' de domingo, 02/11): ( Gianetti)- ''Mas eu insisto. Por que o reconhecimento do outro hoje está tão calcado nos valores do econômico, da posse, do consumo, da ostentação? Os gregos tinham ciência, filosofia, estética, e nunca se preocuparam em mobilizar o conhecimento científico para assuntos econômicos. Na Idade Média, a vida era organizada em torno da religião. O modo contemporâneo é a busca da aprovação por meio da métrica econômica. A tentativa de suprimir isso levou a desastres no século 20. Talvez os países mais apegados hoje ao mundo material sejam exatamente aqueles nos quais se buscou reprimir esse anseio de reconhecimento pelo sucesso econômico. Na Rússia, onde estive recentemente, fiquei chocado com o poder do dinheiro no comportamento humano''. ( Nossa observação: nesta recente ''Mostra Internacional de Cinema'' ,ocorrida em São Paulo, era incrível a recorrência do tema dinheiro por trás dos mais diversos conflitos humanos. Em um filme italiano, só se pensava ou falava sobre isto...Um personagem chegou a afirmar que, ''se você não tem dinheiro neste país, é como se você fosse igual aos imigrantes...''). Continuando os diálogos do ''Aliás'', Ab'Sáber afirmou que ''o que tenho visto no consultório é que a crise ainda não alcançou a vida real, está distante da realidade das pessoas. Elas se ''desresponsabilizaram'' de tal modo que, apesar de saberem que existe uma crise, isso se torna problema dos governos ou dos senhores do dinheiro e, portanto, não existe. É uma negação. As pessoas aprenderam a não ser sujeitos dos processos históricos que as envolvem. Elas só passam a se envolver quando perdem o emprego, por exemplo''. A FACE INJUSTA: (Ab'Sáber)- ''A grande injustiça dessa crise é uma questão de política macroeconômica. É o Estado mobilizando massas de dinheiro para salvar empresas privadas para que elas se reponham na mesma ordem. Posso perguntar: Por que não dão dinheiro para mim?''. (Gianetti)- ''Concordo. Enquanto os bancos ganhavam uma fortuna, os lucros eram privados. Quando se tem prejuízo, socializa-se. Tem alguma coisa eticamente errada aí''. ( Nossa observação: Mais grave ainda é quando se toma conhecimento- a informação é do ''Mais'' da Folha de São Paulo- que uma nação como os EUA gasta cerca de 40% de todos os seus recursos na área de Defesa. São cerca de U$560 Bilhões de dólares por ano, sem contar a conta salgada de mais de U$ 1 Trilhão de dólares para salvar o Mercado Financeiro local. Isto é ou não é a tão condenada ''redistribuição de riquezas'' mencionada por McCain? Só que ''às avessas'', tirando de áreas vitais como a saúde, a educação, auxílio aos sem-teto...). Voltando ao debate do economista com o psicólogo: ( Gianetti)- ''Capitalismo é uma substantivação do sistema econômico que o torna sujeito de alguma coisa. O sistema econômico não age, não decide. Dizer que o capitalismo fez isso ou aquilo, impõe isso ou aquilo...É preciso tomr cuidado para não tornar sujeito uma abstração. O único sujeito que conheço é o indivíduo''. Ainda Gianetti- ''De repente houve a percepção de que um pedaço desse mundo era pó. Os investidores se desequilibraram. Aí, veio o Estado e colocou uma rede de proteção embaixo, para que isso não se torne um desmonte completo. Não só na economia, mas na vida em geral, nós subestimamos a insegurança do mundo. Talvez não seja de todo mal fazer isso, porque se nos déssemos conta da precariedade das coisas com as quais contamos, nos deprimiríamos para valer''( nosso grifo). Ignoramos os ''cisnes negros'', na realidade...Ab'Sáber- ''A ideologia de todo o poder e de toda a existência pelo hábito de consumir deixa as pessoas doentes, tanto do ponto de vista dos que tem dinheiro quanto dos que não têm. Os que têm, perdem todos os parâmetros de valores humanos, os que não têm se despedaçam nessa tensão''( nosso grifo). Gianetti- ''Acho que a crise virá, mas ela será imposta por crises ambientais. Essa é a minha intuição. A humanidade vai caminhar para situações agudas de desequilíbrio climático e ambiental, e aí o imperativo de encontrar outras formas de organizar nossa existência na sociedade vai se impor de maneira muito mais sofrida e violenta. Vai ser pelo caminho da dor, da calamidade, da maneira mais custosa, mais burra. Infelizmente''( nosso grifo). Tristes palavras. Mas, pelo que temos feito até agora, alguém poderia dizer o oposto??? Alcnol.