quarta-feira, 4 de junho de 2008

Do Eu ( ''doeu''?)

Não há nada mais egocêntrico do que uma pessoa realizadora. Ela não se escuda atrás de desculpas, ou do comportamento dos outros. Para ela, explicando a sua trajetória de sucesso, tudo é ''eu''. ''Eu fiz assim, eu fiz assado''. Todos nós nascemos com um ego gigantesco. Nada mais egocêntrico do que aquela ''doce e inocente'' criancinha, que inferniza dia e noite os seus pais em busca de atenção. Veja se ela está ''preocupada'' com o bem-estar e com os interesses de seus genitores...Ela quer ser amada, bem tratada, atendida como um senhor. As crianças de hoje, em especial nos lares de classe média para cima, ORDENAM mesmo. Elas DITAM o que querem e, caso seus pais caiam na armadilha da negação, elas CHORAM e BERRAM em público- que é onde nós nos sentimos mais constrangidos...O ''tratamento'' para o nosso egocentrismo é bem conhecido: ouvimos durante anos, da infância à adolescência, milhares de ''NÃOS''. Se o ''massacre'' for bem-sucedido, nos tornaremos adultos sem força. ''Bem-educados'', ''bonzinhos'', o orgulho da mamãe, do papai, da titia, dos avós. Em suma, neuróticos. E seremos bons criadores de novos escravos: mesmo tendo jurado que não imitaríamos jamais nossos pais, subitamente estaremos duelando com nossos filhos, berrando intermináveis ''nãos'' e suas diversas justificativas: ''não é o momento'', ''não é adequado'', ''não quero que você faça isto'', ''isto não é coisa que um bom filho/a faça''. A estória dos fracos, das pessoas enfraquecidas em seus egos, é uma estória de rancor. Do EU bem grande de nossas infâncias passamos para o ELES proferido com raiva. ''Porque ELES não estão preocupados com o interesse do povo'', ''porque ELES são todos uns corruptos e safados''. Quem diz ''ELES'' ao invés de ''EU'' é fraco: da voz ativa da infância passamos todos para a voz passiva da irresponsabilidade coletiva. ''EU FAÇO'', ''EU DECIDI'', ''EU QUERO'' é forte, indica vontade própria. ''ELES'' não querem saber de nada é a tentativa de atribuir a um terceiro, mais forte que nós, a decisão sobre o nosso destino. Passando para o ''ELES'', para o universo da Culpa, da mágoa, do ressentimento, nós praticamente abandonamos aquele ''EU'' tão forte da nossa infância. Tudo vira ''culpa'' dos outros. Dos pais, dos vizinhos, dos políticos, do marido/esposa, dos filhos, do patrão, do Universo, até mesmo de Deus...O aprender, na nossa maturidade, acaba tendo de ser um processo oposto: das certezas que ''nos foram impostas''( ou melhor, na voz ativa: as certezas que ''nós permitimos que entrassem em nossas consciências...'')temos de nos livrar, em um processo contínuo de esvaziamento. Esvaziamos os ''outros'' e reforçamos gradualmente aquele velho ''euzinho'' de nossas infâncias, já tão esquecido. Um EU amadurecido, que já não necessita da colaboração dos demais para ser feliz nem para satisfazer as próprias necessidades. E aí, contando as nossas próprias estórias, a nossa trajetória de vida, diremos com um ar de travessura: ''EU queria isto, aquilo, aquela/aquele e FUI ATRÁS, arcando com todas as conseqüências''. ''Sofri muito, mas EU CONSEGUI- ou não consegui, mas eu tentei, EU FIZ tudo o que podia, estava ao meu alcance''. Só nós somos responsáveis, no final de contas, por nossas vidas. Já é um peso muito grande carregar a responsabilidade por nossa própria existência- que dirá se quisermos colocar a dos demais sobre os nossos ombros já tão calejados...Se todos nós estivéssemos ocupados em progredir e melhorar em todos os aspectos, como TAREFA PRINCIPAL de nossas vidas, isto já seria muita coisa, muita mesmo...Quem não quiser assim, que tome conta ''deles''...

Sexo ou Futebol?

O brasileiro é apaixonado por futebol, e não é de hoje. O futebol, para os homens em sua quase totalidade, é muito mais do que um esporte. Ele define a nossa identidade. Pegue uma segunda-feira após um clássico local. Pela cidade inteira ouvimos um constante ''zun-zun-zun'' sobre a peleja. Nos bares, no transporte público, nos escritórios, na portaria dos edifícios, nas bancas de jornal, nas obras, todos estão comentando sobre a partida. Vá a um estádio, e você terá uma forma de identidade. A sua identidade é dada pelo grupo. Em uma multidão de torcedores do seu time você se sente acolhido, seguro, ( salvo se for entre flamenguistas, que já vi brigarem entre si...). Fora dali, nas rodinhas, o seu time é a sua identidade- ele te individualiza, personifica. Na portaria do meu prédio, eu sou o ''são-paulino''. Nós todos nos conhecemos pelos nomes. Mas a graça é chamar o outro de ''botafoguense'', ''palmeirense'', ''corintiano''. Na minha banca de jornal predileta também sou conhecido como ''são-paulino''. Há um funcionário palmeirense, outro são-paulino, e o dono é santista. Ele acha graça quando digo que ''não basta que o meu time ganhe: é preciso, para que minha alegria seja completa, que o Corínthians perca também...'' Não basta mesmo torcer só pelo nosso time: no último jogo do Corínthians contra o Botafogo ouvi um grande coro de ''goooool'' nas imediações de meu apartamento na hora do gol do Botafogo. Claro que o Botafogo não tem uma torcida significativa em São Paulo: aquele era o somatório das vozes de santistas, palmeirenses e são-paulinos- inclusive este que vos fala- todos ''secando'' a imensa nação corintiana. Na hora do gol ''deles'' também foi uma festa só, mas apenas dos corintianos...Os adversários também ''secaram'' o São Paulo contra o Fluminense e, em plena meia-noite de quarta para quinta-feira, ouvia-se os rojões dos adversários dos tricolores paulistas festejando alegremente a vitória do Tricolor das Laranjeiras...Como estamos vendo, o futebol não é apenas um esporte qualquer no Brasil. Ele é a nossa vida, a razão de nossas existências, de boa parte de nossas alegrias e tristezas. Em função disto é que passo a analisar a pesquisa que apontou que, para os britânicos, futebol é mais importante que sexo. Antes que alguém diga que ''estes ingleses não são de nada mesmo, e as próprias mulheres inglesas disseram que para elas o sexo estava em SÉTIMO LUGAR após chocolate e várias outras coisas'', vejam bem: a resposta padrão, ''normal'' para uma pergunta como esta é ''claro que o sexo vem em primeiro lugar''. Eu ''nunca iria trocar uma noitada com uma gata para ver um bando de marmanjos em trajes minúsculos correndo atrás de uma bola''. Você, ao pensar em responder algo do gênero, já está ''jogando para a platéia''. Quer dar uma de ''macho'', dizer- como todo bom dependente- que ''quando eu quiser parar eu posso''. A resposta normal é esta mesmo, você está coberto de razão. Mas a vida não nos coloca em situações ''normais'' e ''confortáveis''. Vamos complicar a pergunta: digamos que seja uma final de campeonato estadual( um Atletiba, um Flaflu, um Inter X Grêmio, um Atlético X Cruzeiro), e que o SEU time esteja disputando esta final. Complicado, não? Vamos apertar. Já que o Brasileirão, pelo sistema de pontos corridos, não tem mais uma ''final'' como as de antigamente, pensemos então na Libertadores. Você torce para o Fluminense. Justamente HOJE À NOITE, dia da grande partida da semi-final contra o Boca Juniors, e na HORA DO JOGO, a Juliana Paes( ou a Giselle Bündchen, ou a Ana Paula Arósio, ou a sua vizinha, secretária ou mesmo a sua namorada- dependendo de como anda o namoro...) resolve dar uma ''incerta'' na sua casa...Mesmo que você responda ''claro que eu vou ficar com a mulher, f...o jogo'', tenho a certeza quase absoluta que, na hora H, você estará pensando no jogo! Você lá, no meio da transa, ouvindo os gritos de ''nense'' ( fosse outro o jogo, ''mengo'', ''vasco'', ''São Paulo'', etc.): hája concentração para continuar até o final. Louvo a sua força de vontade se você, na sua resposta, disser que vai até o fim. Larga a final do estadual, da Libertadores, do Mundial em Yokohama em prol de uma ''rapidinha''...Toda pergunta merece uma resposta contextualizada. ''Depende'' diriam os profissionais do Direito, com toda razão. Se você for sincero constatará que, em determinadas ocasiões, até mesmo o sexo perderá para um bom jogo de futebol. Pois, para quem gosta, uma partida de futebol nunca é APENAS uma partida de futebol. Ela influenciará o seu humor durante a semana inteira de um modo tão completo que talvez nem uma boa transa consiga ser páreo. Se você não filmar o sexo, terá de se fiar apenas no valor de sua palavra que, convenhamos, neste quesito não é dos maiores. Todos tendemos a exagerar nesta área... Mas, gravando ou não gravando o jogo, caso o seu time seja vencedor, no dia seguinte- ao vestir o ''manto sagrado'' do seu clube- você será o REI. Seus conhecidos ou não que torcem para os rivais estarão todos se mordendo de inveja e rancor...Vale trocar este sentimento por uma noite de sexo? Aliás, alguém em sãs condições ousaria comparar estes dois prazeres tão grandes? Isto só poderia mesmo dar uma boa piada, uma pesquisa e um texto no blog...