quarta-feira, 16 de abril de 2008

Número 100 !!!

Esta é a centésima postagem de um blog que se orgulha de não ser ''especializado'' em nada. Aliás, este é um blog sobre nada. Ou sobre tudo...Agradecemos às pessoas que possam ter eventualmente visto parte deste trabalho. Eu mesmo ainda não acredito que possa ter continuado isto- uma rara prova de continuidade em minha instável existência...Para alguém a quem é possível a acusação de não ter criado nada nesta existência, de não ter ''feito nada palpável'', eis o meu filho- a minha criação, a minha paixão. O blog em questão não tem uma ''linha partidária'', um ''sentido'', ''propostas'', uma ''religião'', uma linha filosófico-existencial. O blog é a minha cara. Fala do que eu gosto, do que considero importante. Seja de cidades de clima frio- tema de uma próxima postagem- seja de maçãs suculentas de Sasnta Catarina adquiridas em um dos melhores mercados de São Paulo- também possível tema de uma próxima postagem- seja de filmes, leituras, viagens, partidas de futebol. Só isto, alguém perguntaria? O seu ''mundo'' é assim tão limitado que exclua as ''grandes questões'' da existência? A guerra do Iraque, o escândalo dos cartões corporativos, as eleições municipais, a dengue? Vejam bem. O âmbito deste blog é pequeno, limitado, mas sou eu por inteiro. É o que eu penso, aquilo no que me interesso- fora das questões profissionais, o mundo jurídico, claro, que tem blogs melhores que eu leio e nos quais me espelho. É ''apenas'' um blog, e nunca pretendeu ser mais do que isto. Um ''apenas'' que, para mim, significa um mundo. O meu mundo, mental. Conselhos para criar um blog, partidos da minha própria experiência: faça em inglês, pois boa parte dos internautas está nos Estados Unidos, ou se comunica nesta língua. Poste textos curtos, pois as pessoas ou não tem tempo ou não se interessam por textos longos- o futuro do jornalismo são jornalões cheios de fotos coloridas e gráficos, com pouquíssimo texto ( afinal, quem lê mesmo aqueles artigos do Estadão de página inteira, às vezes sem foto alguma? eu leio...). Coloque pouquíssimas palavras, e muitas imagens. O mundo midiático está em ascensão, e invadiu tudo. Todos querem ver imagens, muitas imagens- tiradas de câmeras digitais último tipo ou de celulares. Enfim, a conclusão é que, caso você queira fazer um blog de ''sucesso'', faça o oposto do que eu fiz. Faça o que estou falando. Afinal, quem quer ler mesmo tantas palavras? Contra a maré, e meus próprios conselhos, continuarei pensando-as, e expressando-as em um pedaço de papel, digo, em uma página de computador...

Criancices...

Antes de mais nada, estes comentários foram escritos tendo em vista o que a imprensa vem revelando do provável resultado do laudo do instituto de criminalística, no caso Isabella. Ou seja, a agressão teria sido feita pela madastra, e o corpinho da criança atirado por seu próprio pai. A conduta dos dois supostos assassinos é bem significativa e emblemática. Desde o início, os dois buscaram eximir-se de qualquer responsabilidade. Sabe-se agora que a irmã de Alexandre Nardoni recebeu uma ligação, enquanto estava com amigos em um bar, e, assustada com a revelação, correu apressada para o banheiro para ouvir maiores detalhes. O pai de Alexandre trocou ligações com os filhos, freneticamente, na noite do assassinato, mas quem ligou para a Polícia foram os vizinhos...Tudo isto revela mais uma faceta de uma conduta infantil, disseminada entre muitos brasileiros: ''eu não tenho culpa'', bradam muitos em alta voz. ''Não tenho culpa'' por dirigir embriagado e em alta velocidade, e atropelar uma família inteira. ''Não tenho culpa'' por eleger maus governantes. ''Não tenho culpa'' pelas enchentes que assolam a cidade, mesmo que eu próprio costume jogar lixo pela janela do carro. ''Não tenho culpa'' pelo trânsito, afinal o meu carro é ''apenas só mais um, não é?''.Nós não somos responsáveis por nada. Isto se disseminou a tal ponto que as próprias pessoas que optam por simular este jogo acabam acreditando um pouco em suas próprias fantasias...'Não temos culpa'', e vão jogando suas misérias nas contas de terceiros...A conduta de Alexandre Nardoni, caso seja mesmo considerado culpado pela Justiça, revela imaturidade. Alguém que, sempre que foi confrontado com problemas, buscou a ajuda do pai, especialista em ''varrer o lixo para debaixo do tapete'' ( advogado...). ''Não tenho culpa'' tornou-se o mantra de Alexandre, a cada emergência. E sempre passando impune. E continuamos acreditando que o pai não matou a menina Isabella- nada nos dá a entender isto. Ele foi cúmplice do ocorrido. Tentou cobrir a conduta de sua mulher, ao invés de contribuir para a solução do fato. Talvez não tenha sequer agido deliberadamente. Mas é irresistível para alguém que bradou a vida inteira ''não tenho culpa''- e sempre contou com a ajuda dos outros para resolver os seus próprios problemas- a idéia de ''tirar a culpa'' de sua própria mulher. Afinal, o mal já estava feito, né? Aparentemente a menina estava morta. Faltava criar uma situação que desse a impressão de que alguma outra coisa pudesse ter ocorrido. ''Vamos jogar o corpo''. Só que a menina não estava morta...Não estava morta sequer quando caiu. A intenção de livrar a própria esposa da acusação de agredir a menina foi tão forte, e de mais uma vez conseguir sair de uma situação problemática ''sem culpa'', que o pai- que não pretendia, repetimos, matar a própria filha- acabou entrando para o centro dos acontecimentos. Como cúmplice. Resistir à tentação de acobertar tudo era demais para um ''expert'' nestes assuntos, né? E ainda houve quem, nos meios de comunicação, manifestasse sua indignação pelo ''pre-julgamento'' apressado do casal...Pobres são linchados, presos por tempo indeterminado, tem seus rostos mostrados na TV- sem escolha- como ''assassino'', ''estuprador'', etc. Mas, para muitas pessoas de classe média, que tem advogados, que impetram ''habeas corpus'' para mantê-los soltos ( com a cumplicidade de diversos membros de Tribunais ), a conversa é outra. Eles ''não tem culpa'', não é? Neste caso, ao que tudo indica, podemos concluir o oposto. A ''família perfeita'', os ''gente boa sem antecedentes criminais, com residência fixa e ocupação determinada ( será?)" TEM CULPA SIM. E não dá para negar, acobertar o que eles supostamente fizeram. Que isto sirva de exemplo para os demais ''inocentes'', ainda não apanhados pelo sistema...

Fantasia X Realidade

Este despretensioso blog aproxima-se do número 100. Atribua-se o fato exclusivamente á megalomania e verborragia de seu criador. Não seria de espantar que, deste jeito, ele chegue aos números 500 ou 1000- seja lido ou não...Apreciado ou não, visto ou não, comentado ou não, ele se tornou UM VÍCIO para quem o iniciou, a tal ponto que começa a imiscuir-se aos pensamentos cotidianos desta pessoa: ''esta idéia serve ou não para um texto no blog?''. É o fim da espontaneidade quando começamos a pensar em um leitor ideal imaginário, existente ou não. Por isto blogs não são diários. Aparentam-se mais a ''auto-biografias'' oficiais, em que o autor ressalta arbitrariamente tal aspecto da realidade, enquanto varre o ''lixo'' para debaixo do tapete...Ou para cima, uma vez que acabamos muito mais levantando poeiras- reais ou imaginárias- do que espanando-as efetivamente...Tudo isto, para introduzir o tema real desta postagem. Imaginem que, por um passe de mágica, nos tornássemos subitamente 100% responsáveis pelo que nos ocorre. Que pudéssemos, de uma hora para outra, ESCOLHER os acontecimentos de nossas vidas, como diretores de cinema escolhem o que veremos nas telas. Fantasias, diriam os críticos. Mas, afinal de contas, se não somos nós que vivemos as nossas vidas, QUEM É que as determina? A idéia de uma força misteriosa exterior, que nos impulsionaria ou tolheria conforme a SUA vontade arbitrária, não seria esta a verdadeira fantasia? Ah, mas você está dizendo que nós, e milhões de outros seres igualmente ''sofredores'', escolhemos inclusive os MALES que se abatem sobre nossas cabeças? Por outro lado, eu rebateria, se não somos nós os responsáveis por tudo, inclusive pelo mal que nos ocorre, quem seria? Seria a idéia de um Poder Maior, de um/a Deus/a, compatível com a idéia de ''mal''? Seria este/a Deus/a responsável pelo mal que habita o coração dos homens? Explicam os religiosos que somos dotados de ''livre- arbítrio''. E este livre-arbítrio, para ser realmente livre, deve ser incondicionado. É em torno desta idéia de liberdade, liberdade incondicionada, que, por incrível que pareça, as noções existencialistas e teístas se aproximam. ''Deus quer o nosso bem. Nós sofremos porque somos dotados de livre-arbítrio, e optamos pelo que nos faz sofrer. Somos livres para escolher entre o que nos faz mal, e o que nos faz bem'', dizem os que acreditam em uma FORÇA MAIOR. ''Deus não existe. Logo o homem é radicalmente LIVRE PARA ESCOLHER o que quiser. O homem é totalmente livre para auto-determinar-se, e escolher o que é melhor para a sua vida'', diriam os existencialistas á lá Sartre. Em suma, ambos concordam que o homem é INTEIRAMENTE LIVRE para auto-determinar-se, para escolher o seu próprio caminho. Esta liberdade prescinde da noção de culpa, que está mais ligada ao erro permanente. De fato, como aprendizes, somos responsáveis pelo que está nos acontecendo. E colhemos exatamente o resultado dos nossos esforços/ações. Mas o erro, por maior que seja, é corrigível. Podemos igualmente OPTAR por mudar o nosso caminho. Aqui lembramos de um trecho de ''O profeta'', de Kalil Gibran, lido há muito tempo. Nele, o autor diz que ''o homem não erra porque é mal, erra porque é preguiçoso". Ninguém nos impede de corrigir os nossos rumos. Mas somos condicionados por idéias alheias, falsas, que nos foram inoculadas inclusive pelas pessoas que mais amamos na vida. E temos preguiça de pensar por conta própria. O maior véu que nos cobre, é causado pelas noções de ''mistério'', ''vítimas'', ''milagres'', ''sorte'', ''acaso''. Imaginemos que um dia pudéssemos escolher os nossos destinos, foi o convite a que eu os submeti no início deste texto. Isto é a realidade, eis a nossa conclusão. Somos livres, radical e absolutamente livres, e nem sequer Deus- para os que acreditam- irá interferir em nossas vidas, mesmo para ajudar-nos- se não for solicitado. Estamos aqui para descobrir isto, mais cedo ou mais tarde, com menor ou maior preço. Se somos livres, e não agimos como tal, quem é, de fato, o nosso maior juiz e carcereiro? ''Complicado'', não???