terça-feira, 27 de maio de 2008

Palavras, e seus significados...

Se alguém me convida para cear em sua casa, e logo após a refeição pergunta o que achei, saio-me com esta: - ''esta refeição é única''. E não estou mentindo. TUDO é único, peculiar, sem igual. Agora, há ''únicos'' e ''sem iguais'' bons, e outros nem tanto. Uma transa pode ser ''peculiar'', ''excêntrica'' ( termo caro aos ingleses)e ser uma droga. ''Que tal, meu bem''?, ela pergunta. ''Você é única meu amor''. E bota ''única'' nisto. De repente ela saca um chicote e te dá umas vergastadas no traseiro, ou pede que você bata nela, ou morda- e bem forte...Isto é ou não é bem ''peculiar'', ''único''? Tão ''único'' que você anota o número do telefone dela e diz ''eu te ligo''( bem, isto não é tão original...mesmo sendo loira, esta ela pode entender...). Outra palavra interessante é ''satisfeito''. Os garçons, ao recolher os pratos, costumam perguntar sempre se estamos ''satisfeitos''. Quando o serviço e a comida excederam minhas expectativas, em um padrão de excelência que espero sempre que vou a um restaurante, replico que ''não, não estou satisfeito''. O garçom fica surpreso, e eu finalizo com esta: ''estou mais do que satisfeito''. A comida estava excelente, etc., e não economizo nos elogios. Não acredito- como algumas pessoas fazem, no relato do garçom- que ''não podemos elogiar alguém porque ele/ela pode ficar muito convencido/a e baixar o nível do que faz''. Ao contrário: os seres humanos são movidos muito mais por elogios que por broncas ou ceticismo, ou mesmo por agrados financeiros( se bem que não dispenso isto quando sou bem atendido...). Um elogio sincero, e aquela pessoa estará ''fisgada''- e demonstrará o seu agrado da próxima vez que você for àquele lugar. Infelizmente, no nosso mundo os elogios são mais raros que as gorjetas. Bem mais raros. Estar ''satisfeito'', para usar o linguajar dos garçons, é algo que não me faz querer repetir algo. ''Satisfeito, para mim, não satisfaz''...''Satisfatório'' lembra aquela nota mínima para a aprovação na escola. A média era 6, passamos com 6,1- raspando. ''Satisfatório'' para todo mundo: nossos pais não cortavam nossa mesada e podíamos viajar no final do ano, enquanto os coleguinhas da turma ficavam de ''recuperação'' ( como o Corínthians na série B do Brasileirão...). ''Satisfatório'' lembra ''regular''- que é a nota mais atribuída pelos brasileiros a qualquer governo. ''Satisfatório'' lembra mediano. E, por que nos daríamos ao trabalho de muitas vezes cruzar a cidade para ter uma experiência mediana? Com 12500 restaurantes, boa parte deles patinando nesta categoria média, o que nos faria escolher este ou aquele? O diferencial é a excelência. Precisa ser, no mínimo, muito bom para querermos repetir. Seja o restaurante, a pessoa, a cidade, a loja, o livro, o blog, etc. O excesso de oferta faz com que fiquemos cada vez mais exigentes, ''luxentos''- para usar o termo que ouvi de alguém esta semana...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Citações...

''O mundo está repleto de renúncias e aprendizagens e essa é a tua: deves passar por tolo e grosseiro durante um longo período''. RALPH WALDO EMERSON, ''The poet''

Speed Racer

Como vocês puderam perceber, o tema ''Realidade X Fantasia'' nos interessa. Já foi objeto de diversos posts aqui. Caminhamos a passos largos para a abolição das fronteiras entre as duas coisas, se é que já não chegamos lá...No mundo dos filmes, é cada vez mais difícil distinguir o que é uma coisa ou outra. Vejamos este muito bem produzido, e belo, filme- ''Speed Racer'' - que tivemos o prazer de assistir ontem em meio a uma platéia repleta de crianças. Apesar de contar com atores de carne e osso, alguns de primeira qualidade, temos a clara sensação de que boa parte daquilo foi resultado de trucagens de estúdio. É tudo muito belo, colorido, os carros voam, fazem acrobacias, duelam entre si, parecemos transcender- por instantes- a divisa entre a vida e a morte. Tudo não passa, de fato, de um desenho. Um desenho com personagens de carne e osso. Nos desenhos não há dor. Não há morte- esta fica subentendida. Não se pode sequer acusar o filme de ''abusar dos efeitos especiais''. Há uma estória. Há uma denúncia- por incrível que pareça comum nos filmes de Hollywood- do papel nefasto das corporações. Hollywood criou ''Matrix''( pelas mãos dos mesmos produtores de ''Speed Racer''), criou ''V de Vingança'' ( um inusitado terrorista ''pela liberdade'' que chega mesmo a explodir o Parlamento Britânico). Enfim, o filme/desenho tem idéias, não desagrada os adultos. São as crianças que, nos momentos de diálogos que esclarecem pontos da estória, demonstram um certo aborrecimento( talvez porque eu tenha assistido o mesmo em cópia legendada)e começam a conversar entre si ou com os pais. Isto não dura muito. O filme é repleto de corridas, e muita ação. O que queremos enfatizar aqui é que na cabeça das crianças, e de muitos adultos, a distinção entre ''mundo material'' e ''mundo/fantasia'' é cada vez mais tênue. Não veremos muitos protestos diante desta nova tendência: os atores ''reais'' serão cada vez mais COADJUVANTES nos novos filmes. Não veremos estes protestos, porque poucos estão se dando conta de que a fronteira está sendo transposta...E nem há muito porque protestar mesmo. Estamos todos aprendendo coletivamente, por meio da Internet e dos filmes, que somos muito mais do que os nossos corpos. O MUNDO É MENTAL, É FANTASIA. Fosse ''real'', e haveria uma só forma de lê-lo, compreendê-lo. Perdemos muito tempo em busca disto. Na verdade, a consciência de que os nossos pensamentos são NOSSOS- e não um ''retrato fiel e acabado da realidade''- é o ponto de partida para superarmos todos os dogmatismos e fanatismos. Voltando os nossos olhares para as armadilhas que estão dentro de nós, e que nós mesmos criamos, talvez, enfim, possamos nos dar conta que- COMO SE FAZ COM AS FANTASIAS DE CARNAVAL- somos capazes de trocar as nossas fantasias mentais. Substituí-las ao nosso bel prazer. O processo será mais dolorido quanto mais pensarmos nos acontecimentos como ''reais''. A internet, os meios de comunicação, tudo isto exerce no momento o papel de uma gigantesca caixa de repercussão das ''mazelas'', das ''dores'' globais. Muitos lastimam, choram, reclamam, e há uma gigantesca platéia disposta a escutá-los. Muitos apreciam esta exposição de feridas e horrores ''em praça pública''( hoje esta ''praça'' é a internet...). Prefiro compreender este processo todo. Às vezes uma bela ''fantasia'' como o filme ''Speed Racer'' é capaz de desencadear toda uma reflexão sobre o mundo ''real''. Afinal, tal como o herói da estória- que tenta compreender qual o sentido de correr- nós todos estamos tentando entender o sentido de viver...''Go, Speedy, go!"

sábado, 24 de maio de 2008

São Paulo e sua incrível capacidade de replicar coisas...

Não preciso nem ir muito longe para comprovar isto. A alguns metros de onde moro foi inaugurado um novo restaurante de frutos do mar. O nome- Saint Tropez- lembra a Europa. Mas a decoração do restaurante, e os pratos servidos, fazem-nos pensar que estamos na Bahia. Em uma pequena cidade baiana...Dentro há palmeiras, a decoração( com luminárias antigas, parede com pedras, muita luz natural). E os pratos? Apesar dos nomes em francês- será alguma conexão com países da América Central?- como ''bouillabaise'' ou ''baiannaise'', este último( um de meus favoritos)é simplesmente uma nova versão da tradicional moqueca baiana. É leve, apetitoso, leva bastante leite de côco. O dono do lugar é especialista na criação de ambientes. Tem um que nos remete ao mediterrâneo de influência árabe. O outro lembra um café parisiense, daí o próprio nome: Paris. Mas São Paulo, como nenhuma outra cidade, tem esta capacidade de mimetizar, de reestilizar coisas conhecidas de outros lugares com um toque paulistano- em especial na qualidade do serviço e na receptividade. Há um número infinito de botecos ''estilo carioca'', o que só comprova que o Rio de Janeiro é uma das obsessões do imaginário paulistano, bem como restaurantes que servem parrilla argentina. Por tudo isto, podemos dizer sem sombra de dúvidas que é uma cidade em que, por si só, por conter o mundo inteiro em si, sentimos muito menos vontade de viajar que em outros lugares. Necessidade alhures, aqui a viagem- esta para fora, para outros lugares- é uma opção. Redundância falar em ''viajar para fora''? Não, quando se conhece São Paulo- um lugar onde também é possível ''viajar para dentro''...E com a mesma sensação de descoberta...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O que buscamos

Há alguns anos esta seria uma página de manifestos. Minha mente funcionava desta forma áquela época. Hoje ainda há diversos manifestos aqui, mas ao menos eu me policio para reeducar o próprio olhar. Explico-me. Há uma maneira de abordar a realidade que eu chamo de ''queixosa'': descreve-se um fenômeno meio que lamentando o fato de as coisas serem daquele modo. O ''queixoso''/''lamentoso'' está em eterna briga com os fatos. Também batizo este comportamento de ''crítico''. Ontem, em pleno feriado, fiquei atento para contar quantas vezes estas práticas se infiltram em nossas conversas do cotidiano. A cada vez que identificava o pensamento, dito por mim ou por outra pessoa, eu interrompia o papo para dizer : ''crítica''...Uma simples conversa comum, na hora do almoço, rende cerca de 5 a 6 comentários ''críticos'', conforme a duração da refeição...Imaginem em um dia: quantas vezes nós disparamos comentários no modo ''crítica''? Ou mesmo pensamos de modo semelhante? Não estou livre disto, muito pelo contrário. Apenas COMEÇO a me dar conta do processo. Há um comportamento oposto, que eu considero mais adequado. Ao qual eu estou mais inclinado no momento. É o de ''observador''. O ''observador'' não luta com os fenômenos que analisa. O ''observador'' é mais descritivo do que analítico. Minha meta é ser cada vez mais ''observador'' que ''crítico''. O PROBLEMA ( e não é que sempre há um PROBLEMA a resolver?) é que as FRONTEIRAS entre um e outro comportamento não são muito nítidas, distingüíveis. Não há um ''puro crítico'', nem um ''puro observador''. É difícil descrever até mesmo o comportamento de crianças sem relatar que uma ''está com o dedo na boca'', ou a outra ''gosta de puxar os cabelos das amiguinhas''. O relato de algo ''desagradável'' - a própria expressão sintetiza o linguajar ''crítico'' -denota um certo desconforto com o que descrevemos. A escolha dos temas, em que costumam predominar aqueles assuntos que amamos, também nos tira por vezes de uma linha ''puramente descritiva''. Vez por outra vocês depararão, aqui, com textos inclinados a uma postura ''crítica''. É difícil romper com o passado de uma vez só...Mas a idéia por trás deste blog é a de fazer fotografias com as palavras( talvez, vez por outra, algumas fotos ''reais'' também...). Rotular fatos da vida com etiquetas de ''bom'', ''ruim'', ''errado'', ''certo'', etc. no fundo é uma maneira de colocar o pé no freio, conter-se ante o que está acontecendo. É DIMINUIR o que observamos no mundo fenomênico. Observar, puramente observar- por outro lado- é colocar o pé no acelerador, é mergulhar na vida. A postura ''crítica'' nada mais é do que colocar-se à margem, não participar do que acontece ante os nossos olhos. ''Críticos'', por mais progressistas que se queiram, não passam de ''REA-CIONÁRIOS'' ( escrito separadamente para enfatizar que eles RE-AGEM aos fatos que não apreciam...). Os ''críticos'', e o mundo da arte é a maior expressão disto, tem uma extrema dificuldade de criar algo. Coloque um ''crítico'' ante um texto, e ele ficará preocupado em ''corrigí-lo'', apontar os inúmeros erros de português. Homem dos bastidores, escolhe sempre ficar em segundo plano ante as criações que analisa, ''abomina'', mas, no fundo, não consegue ficar longe delas...O ''crítico'' é um amante às avessas...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ainda Campos do Jordão

Lembro-me de uma viagem que fiz há muitos anos ao litoral paulista. Foi um choque ver aquelas praias todas, já naquela época, ocupadas por casas e mansões. Em determinados trechos, foi preciso rodar de carro por vários minutos até poder ver o mar. Este foi o primeiro contato com a ocupação de territórios ''estilo paulista''. Hoje isto não choca mais ninguém, tornando-se mesmo o modelo nacional de ocupação de nosso extenso litoral. Florianópolis, como já abordei em um outro post, caminha a passos largos para isto. A mesma sensação desagradável que tive em outra época, por Caraguatatuba e São Sebastião, tive no último fim-de-semana em Campos do Jordão. Não negamos a ninguém o direito de possuir os seus imóveis em lugares belos e estratégicos. Porém, é preciso saber ''retirar os ovos sem matar as galinhas''. Em Campos do Jordão, pude constatar, a natureza- que é a principal razão para deslocar-nos para aquela região- está muito castigada. Quase todos os morros estão TOMADOS por milhares de casas, a maior parte delas desocupadas. Claro que, com todo este ''agito'', era inevitável que uma IMENSA FAVELA tomasse um morro inteiro na entrada da cidade. Imagino quantas árvores, quantas ARAUCÁRIAS- espécie rara, tão comum naquela região- foram derrubadas para dar espaço a todas estas construções. E uma GRANDE DECEPÇÃO foi rodar boa parte da cidade para ver uma cachoeira ''urbanizada'', a cachoeira mais ''chinfrim'' que já vi em toda a minha vida: mais parecia as quedas do belo Parque Tanguá, em Curitiba, todas com a intervenção humana. Um fiapo de água, com cimento ao redor. A de Campos do Jordão perdia, sinceramente, para as cachoeiras urbanas do Parque Tanguá...Mas este é o modelo paulista de ocupação, caracterizado pela privatização de áreas públicas. Assim, todos querem ter os seus imóveis nas praias- e Guarujá mais parece uma ''cidade fantasma'' com todos aqueles prédios vazios e quase ninguem nas ruas- e suas casas na montanha. Resulta que, para darmos a todos o seu direito de ter casas na praia ou na montanha, podemos acabar com a própria montanha...ou com a praia...Por tudo isto saí com a sensação de ter passado por uma extensão de São Paulo, uma extensão dos shoppings, uma extensão dos condomínios...A própria São Paulo, por incrível que pareça, parece ter muito mais vida, parece estar menos tocada pela mão do homem que as suas extensões próximas...Ao menos aqui os condomínios de casas estão longe...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Fotos X Memória

Subi pelo teleférico a um ponto bem elevado da cidade de Campos do Jordão, de onde pude avistar toda a cidade. E lá, bem ao nosso lado, outros turistas iam posando para a tradicional rodada de fotos que é feita nestes lugares. Imagino que, em um futuro não muito distante, será impossível transitar por estes pontos turísticos tradicionais. Explico: você estará sempre ''atrapalhando'' a foto de uma outra pessoa. O que me pergunto, no fundo, é uma outra coisa. Cientistas estão preocupados com o armazenamento de informações nos frágeis meios digitais- isto atrapalhará o trabalho dos historiadores do futuro, graças à sua perecibilidade. Não estará acontecendo algo preocupante com a disseminação de todas estas câmeras digitais e celulares com fotos? A necessidade de olharmos um álbum de fotos de algum lugar em que estivemos- fotos estas que não terão o mesmo valor emocional para outras pessoas- afetará em que medida a nossa memória? A foto, me desculpem os apreciadores desta arte, é sempre uma redução, um enquadramento limitado do real. Sera´que todos estes fotógrafos amadores estão se preocupando, com a mesma ênfase, em guardar alguma recordação significativa, uma emoção gostosa relacionada ao lugar que estão visitando? A fotografia, disseminada, virou uma ''commodity'' barata, tão barata- em todos os sentidos- quanto o preço de todas estas câmeras e celulares. E a imagem- barata, disseminada e onipresente- não chega, a meu ver, aos pés da PALAVRA( esta sim real, não ''fake''). PS: Se bem que dizem que a invenção DO LIVRO prejudicou a nossa memória, uma vez que ANTES havia pessoas especializadas na arte de DECORAR textos inteiros...

Fugindo do ''fake''???!

A questão que faço é simples: haveria como fugir do ''fake''? A esta altura do campeonato, com a onipresença da imagem, haveria alguém ainda neste mundo que não posasse ante a presença de outros olhos, ou de uma máquina fotográfica ou de uma câmera? Estamos tratando da cada vez mais hipótetica possibilidade de encontrar um ser humano ''puro'', livre do ar ''blasé'' e fingido de todos os que somos tocados pelo universo midiático...Primeiramente, é preciso indagar se já houve alguma sociedade humana não influenciada pela aparência. Ao menos nos últimos 500 anos, temos relatos que mostram toda a força da moda, da roupagem, da imagem. Isto não surgiu hoje, Porém, o advento dos meios de comunicação contemporâneos potencializou estas características do ser humano. Elevou-as ao máximo. Hoje, inconscientemente, todos se comportam não mais como meros assistentes, espectadores. Ostentamos o ar de ''estrelas'' em busca do olhar do próximo. Tudo isto é um universo meio feminino: as mulheres não nos olham de frente, salvo raríssimos casos. Elas passam, e com o canto dos olhos reparam se você está olhando para elas... Hoje há um fato cada vez mais comum, e que transcende a fronteira entre os sexos: nos transformamos, com toda esta mídia, em espectadores ''frouxos'' e desatentos, péssimos ouvintes. Mas, paradoxalmente, estamos cada vez mais carentes de atenção, dependentes dos olhares alheios, carentes de um ''palco''. E estas necessidades sufocadas, não satisfeitas, explodem cada vez mais na forma de comportamentos violentos. Uma pessoa que bebe e sai dirigindo à toda, atropelando diversos pedestres não é bem um exemplo de um ser humano feliz, não é? As ''ilhas'' em que nos transformamos todos- cada um em seu universo particular, na sua casa, no seu carro, no seu condomínio- estas ''ilhas'' estão, no fundo, carentes da mercadoria mais rara da atualidade: a atenção. Os serviços massificados se deterioram, enquanto as coisas personalizadas e individualizadas tem um alto preço. Compare o atendimento de uma empresa de telefonia celular ao de um restaurante de luxo: na primeira vez que precisei de um serviço, após adquirir o meu telefone móvel, fiquei esperando cerca de 30 minutos em uma destas lojas para, ao final, desistir. Enquanto isto, no restaurante, maitre e garçons te cercam de todos os mimos. Detalhe: a atenção dos outros custa caro. A atenção não é a mesma no restaurante 5 estrelas e no McDonald's...Pessoas carentes de atenção lotam os consultórios dos psicanalistas. Entram em lojas, para comprar, seduzidos pela falsa cortesia das vendedoras. Compram, compram e compram. Mas este consumo todo não as satisfaz, talvez apenas por breves instantes. Incrível esta capacidade das mercadorias de nos seduzirem e desencantarem logo a seguir... E continuam, muitos, comprando mais...Mas fujo do tema principal: a pose. Tenho/temos muitos a tentação irresistível de buscar, de observar o ser humano ''como ele é''. Sem a pose. Sem saber que está sendo visto. E é este nosso ''voyerismo''' que sustenta toda a indústria da televisão e da sétima arte. Tal é esta nossa carência, que pagamos cotidianamente para assistir pessoas representando situações da chamada ''vida real''. Mas, ao contrário da maioria, não tenho a menor atração por programas do estilo ''Big Brother'': ali os seres humanos comuns SABEM que estão sendo vistos, e se comportam de forma tão falsa como a dos atores. Interessa-me, neste mundo de representações, a visão de alguém ANTES que esta pessoa se dê conta do nosso olhar, e comece a posar...Isto é dificílimo, principalmente em relação ás mulheres: elas parecem contar com anteninhas, com um estranho ''sexto sentido'' que lhes dá uma visão 360 graus do que está ao redor...Mesmo que não manifestem o menor apreço por quem as observa, e finjam ignorar-nos, elas estão cientes de que estão sendo vistas- e vão computando em suas mentes estes ''pontos'' todos que vão fazendo nos diversos ambientes. O mundo do olhar é o mundo feminino por excelência. As mulheres sempre foram educadas para serem as ''deusas'', as ''belas''. Diga a uma que ela é ''inteligente'', e ela sorrirá amarelo. Agora, diga mesmo a uma vovó que ela é ''linda'', e ela dará um sorriso coquete, sedutor. Por isto, como transitam com naturalidade por todo este universo de cirurgiões plásticos, moda, produtos de beleza/maquiagem, creio que as mulheres sequer sentiram a transição para este mundo ''fake'' em que vivemos. O universo feminino- e o destas réplicas ''fake'' do feminino que são os travestis- há muito transita com familiaridade entre o real e a réplica, a cópia reestilizada. Mulheres compram bolsas no Bom Retiro e depois as exibem ou vendem para suas amigas sem o menor pudor, misturando-as aos produtos ''oficiais''. A moda, em geral, é o universo do feminino, há muito tempo. Se buscarmos uma pessoa não posada, ''real'', teremos de nos mudar para uma distante ilhota do Pacífico, ou embarcamos em uma viagem pelo tempo em direção à Pré-História. A imagem venceu, percebamos este fato ou não, e comanda tudo, onipresente e auto-satisfeita...Como uma Giselle Bündchen...

Primeira vez em Campos do Jordão

Um rápido ''city tour'' em uma van- que está substituindo o tradicional trenzinho motorizado que percorre os principais pontos turísticos da cidade- e o guia vai informando que aqui é a mansão do ''ex-ministro Fulano'' e ali é a mansão de Edir Macedo, e ali é a mansão de não-sei-quem. A cidade, ao melhor estilo paulista, está toda fatiada. Campos do Jordão é o interior ''reestilizado'', ''fake''. Longe de mim criticar isto, urbanóide que sou. Mas, se você quer desfrutar alguns momentos de tranqüilidade longe do ''stress'' da cidade grande, fuja de Campos. Esta é um grande prolongamento de São Paulo, um ''shopping a céu aberto''. Mesmo não fazendo muito frio durante o dia, cerca de 20 graus no sábado meio-dia e 22 no domingo, ali os paulistanos e demais turistas aproveitam para usar seus sobretudos, cachecóis, luvas e outras roupas típicas de inverno que são alardeadas e vendidas em todas as esquinas da cidade. O ''marco zero'' da cidade- a Cervejaria Baden Baden- está lotado desde cedo, com filas de espera. Carrões passam lentamente, e seus passageiros botam a cabeça para fora para serem vistos. Carros são desnecessários ali- onde tudo é perto- mas, tal como na cidade grande, são uma marca distintiva de seus proprietários, um símbolo de ''status''. Por isto, na hora de ''rush'', Campos do Jordão tem mini-engarrafamentos. Neste gigantesco ''shopping a céu aberto'', esta extensão de São Paulo nas montanhas montada pelo capital, não nos sentimos longe da cidade grande: mini conjuntos comerciais ostentam as marcas de grifes famosas, na hora de tomar um café podemos optar entre um ''Fran's Café'', uma ''Casa do Pão de Queijo'', uma ''Copenhagen''. Fora destes lugares padrão, similares aos de cidades maiores, só nos resta escolher alguma das inúmeras lojas que vendem chocolates locais. O ''fondue''- que não é de nossa preferência alimentar- ali é onipresente, vendido nas suas diferentes formas. Campos do Jordão é uma réplica de cidades sulinas como Gramado e Canela. E estas, por sua vez, são réplicas de cidades européias... A diferença, significativa por sinal, é que a cervejaria ''alemã'' de Campos do Jordão não é alemã, nem foi criada por imigrantes alemãos...Por isto Campos do Jordão é ''fake'', ''réplica das réplicas''. Não quer dizer que seja pior que as cidades gaúchas mencionadas. Passamos bons momentos lá, e pretendemos voltar algum dia. Mas Campos do Jordão não surgiu, embora tenha muitas construções ao ''estilo europeu'', da iniciativa de imigrantes. Todas estas cidades, criadas por imigrantes ou pelo iniciativa do capital, sabem ''vender-se'' muito bem. Descobri em Campos, neste fim-de-semana, que as meias de qualidade que eu comprava em uma loja de um shopping paulistano que já fechou são produzidas ali. E eu pensava que eram importadas...Mas, pelo centro da cidade, podemos encontrar de tudo: pequenas lojas e barracas vendem todo tipo de ''lembrancinhas''- como é tradicional nestes centros turísticos. Somos assediados por todas as espécies de vendedores. A sensação, após dois dias, é a mesma que temos após algumas horas em um shopping center qualquer: de cansaço. Cansaço do barulho, cansaço das ofertas, cansaço da comida mediana comparada à da cidade grande, frustração por um frio prometido que não veio. Voltamos cansados dali, como de qualquer programa feito na cidade grande. Campos do Jordão, este interior reestilizado, ''fake'', esta suposta réplica de cidades sulinas ou vilas européias, deve ''bombar'' ainda mais no próximo feriado de ''Corpus Christi''- invadida mais uma vez por hordas de turistas que apreciam estes ambientes recriados que, francamente, não passam de outras versões de shoppings...Haverá ainda algum lugar, a esta altura, ''espontâneo'', ''legítimo'', não tomado pelo ''fake'', pelo mundo das aparências? Quem quiser procurá-los, que os procure. Conformado, eu visto a roupagem do mundo ''fake''- tão concreto e onipresente como o ar que respiramos...Ainda voltaremos a este assunto...

São Paulo- centro das réplicas...

Como abordamos no ''post'' anterior o universo das cópias, do ''fake'', é impossível não ligar isto á nossa- deste que vos fala- cidade. Mesmo porque, muito antes de toda esta pirataria tomar as ruas deste país e do mundo, São Paulo já se notabilizava como uma cidade ''fake'', cidade das réplicas. A capital paulista talvez tenha embarcado no mundinho da imagem antes mesmo de Debord escrever( há 40 anos)o seu ''Sociedade do Espetáculo''...Explico. São Paulo não se notabiliza, muito pelo contrário, pela sua beleza. Perde feio, dizem seus críticos, neste quesito para diversas cidades brasileiras- embore eu não concorde muito com esta difundida afirmação( provarei isto em outros ''posts''...). Mas é o que se diz por aí. Esta é a capital dos serviços. E a capital se notabiliza, no meio de milhares de restaurantes, hotéis, shoppings, etc, pela criação de ambientes que nos dão a impressão, por momentos, de estarmos ''fora' de São Paulo''. Ou seja, São Paulo- esta ''massacrante'' cidade- NOS VENDE ( literalmente)um ideal: a fuga de si mesma. E podemos fugir daqui por diversos meios- o menos recomendável e mais lento a escapada ''real'' pelo meio do trânsito...''Fugimos'' cotidianamente por meio de um dos inúmeros ''ambientes'' que nos são vendidos: um restaurante tailandês em forma de um templo oriental, com um pequeno lago lá dentro; uma cantina italiana, com funcionários uniformizados ao estilo daquele país; uma pizzaria que, segundo dizem, serve uma pizza ''melhor que lá na Itália'', restaurantes japoneses reestilizam, ao gosto dos clientes, a forma de fazer um ''sushi''. São Paulo é ou não é a ''capital da réplica, do fake? Outro dia mesmo virei a cabeça, aqui nos Jardins, para ver uma Ferrari passar. Pois, logo à frente, a suposta ''Ferrari'' começou a ter um problema no escapamento, como um carro comum, e quase parou...Eu caí, uma vez mais, na onda do ''fake''...No próximo ''post'' trataremos de um lugar próximo que também se especializou no ''fake'': Campos de Jordão, onde estivemos no último fim-de-semana...PS: E ainda sequer tratamos destes ''epicentros fake'' que são os shopping centers e os condomínios residenciais...

Viagem ao Universo das Réplicas

Na última quinta-feira, fui convidado por duas conhecidas para acompanhá-las durante suas compras no eixo 25 de março/Bom Retiro. As duas não moram na cidade: vieram especificamente para isto. O interessante é que o mundo da ''moda paralela'' profissionaliza-se cada vez mais: hotéis luxuosos, que não ficam a dever em relação aos similares dos Jardins, shoppings que reúnem diversos lojistas- e que são mostrados até em novelas de TV( inclusive há uma TV que não esconde utilizar as roupas vendidas nesta região do Bom Retiro para vestir seus funcionários e atores, em uma espécie de ''convênio''). Estamos no mundo do ''fake'', do que APARENTA ser algo. Os próximos posts, já planejados, tratarão deste assunto exaustivamente. Mas, voltando ao Bom Retiro, vendedoras em lojas cheias anunciam as últimas novidades estilo ''Chanel'' - que fique bem entendido: réplicas da famosa marca francesa...As duas entram e saem das lojas, freneticamente. Na véspera já haviam ''demarcado'' o território, localizando as melhores pechinchas. As lojas ostentam dois preços: ''varejo'' e ''atacado''( este segundo menor, para lojistas e pessoas que comprem em grande quantidade ). Ao contrário da impressão que tive na 25 de março, onde andamos nos espreitando no meio de uma enorme multidão, e as mercadorias parecem coisa de quinta categoria importada da China, no Bom Retiro as lojas são bonitas, pintadas. As ruas não estão tão cheias. Ao sairmos, após realizarem diversas compras, o motorista de táxi informou que ali era ''criada a moda do Brasil''. Errou no uso do ''criada'': ali, a céu aberto, é ''replicada'', COPIADA a moda do Brasil e do mundo. Com uma aparência que não envergonha minhas amigas e suas conhecidas de classe média. O mundinho ''fake'' vai além do conceito de ''pirataria''. Enquanto cidadãos respeitáveis adquirem roupas na 25 de março, e programas de computador na Rua Santa Ifigênia( centro de São Paulo), ou mesmo em gigantescos conjuntos comerciais em plena Avenida Paulista, até mesmo as marcas cohhecidas embarcam na busca por mais lucros a todo custo: aqui temos a ''terceirização'' da produção( e o seu produto ''IBM'' pode ter sido feito por uma empresa pequena de Taiwan...), e a fabricação em países pequenos da América Latina e do Extremo Oriente( tênis Nike ''made in Vietnã'', casacos Lacoste ''made in Peru'', etc.). Quando pensamos em ''pirataria'', isto nos remete à ação de bandidos ''externos''. Porém, os cada vez mais perfeitos produtos ''fake'' não dispensam a intervenção de gente de dentro das empresas famosas. Alguém acha que os últimos lançamentos de cinema foram copiados por um espectador dentro do cinema, com uma micro-câmera? Então como eles chegam aos camelôs SIMULTANEAMENTE ao lançamento do filme, ou mesmo antes? Reportagens extensas informam-nos que as réplicas cada vez mais perfeitas são feitas pelos mesmas confecções terceirizadas (chinesas?) que fabricam os produtos ''oficiais'', muitas vezes com o mesmo material e o mesmo molde...Não é o caso dos produtos do Bom Retiro: se o original é de couro, estes são de couro sintético...Mas enganam as suas usuárias, e isto é o que importa...O jogo das réplicas é feito também por lojas de departamento- de que já tratamos neste blog- que mantém espiões pelo mundo inteiro, para copiar os produtos das grandes grifes e lançar réplicas mais baratas para as multidões que as freqüentam...Inclusive este que vos fala...O mundo da imagem é o mundo do ''fake'', do que aparenta ser, do que ''parece que é''. A moda ''oficial'' sempre brincou com isto. A única diferença, hoje, é que a brincadeira é cada vez mais jogada por um número crescente de pessoas. Queiramos ou não- e esta crescente pirataria está ligada( como não?)à criminalidade, ao tráfico de drogas- isto tudo faz cada vez mais parte de nossas vidas. ''Brinca-se'' de replicar em plena luz do dia, à vista de todos (da Polícia, das autoridades, etc.). Não há quem não saiba disto. Não há quem, mesmo no nosso meio, não tenha tomado partido de uma destas múltiplas modalidades de ''fake'', à escolha do cliente. O ''fake'', e a tomada das economias ocidentais por quinquilharias vindas da China ''comunista'', isto tudo é a cara do ''real'', do nosso dia-a-dia. Uma ''realidade'' que é cada vez mais não distingüível das múltiplas ''realidades'' paralelas- todas aparentando a mesma coisa. O mundo atual assiste indiferente ao ''real'' sendo devorado de dentro de suas entranhas pelo ''fake'' - este sim um possível futuro do ''real'', um ''real'' em potencial do qual não sabemos ainda as conseqüências...PS: Elas voltaram com sacolas cheias do Bom Retiro. Os negócios, ali, vão muito bem, obrigado...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Cafés em Livrarias

A maior livraria paulistana- e do país- tem um pequeno café em seu interior. E, mesmo quando está meio vazia, é quase impossível encontrar um lugar neste café. Pessoas circulam com bandejas- o sistema é de auto-atendimento- por minutos, antes de achar uma mesa para sentar. E, às vezes, a mesma está ocupada...por uma bolsa...Desde a inauguração da livraria, o café fica lotado desde as primeiras horas da manhã. Ele foi construído com belos vidros que nos dão a vista do exterior, dos carros que passam incessantemente pela rua lá fora. O Brasil, por sinal, tem destas coisas: as pessoas vão ao café para conversar, e para serem vistas, paquerar, etc. O café faz mais sucesso que a livraria, por momentos. Acho que diversas pessoas que vão àquele café ''passam batido'' pela loja que o abriga. Ao menos, para ser otimista, não é possível a estas pessoas ignorar o universo de livros da loja que abriga o pequeno café. Algumas chegam mesmo a levar livros para dar uma pequena olhadinha no café, o que também já é alguma coisa. Cafés combinam com livrarias, nada contra. Esta tem apenas um café, enquanto as outras mais parecem lojas como Casas Bahia e Ponto Frio- com todas aquelas geringonças eletrônicas.Seria mesmo otimismo em demasiado imaginar uma livraria- no Brasil- que abrigasse apenas livros, sem utilizar estes pequenos recursos para atrair movimento e clientes em potencial. Seria possível???

Duas cenas...

Uma envolve celulares. Entro em um banheiro de shopping. No box ao lado do meu, o som de uma conversa por celular. O engraçado é que, enquanto falava ao telefone, o sujeito arrancava freneticamente pedaços de papel higiênico, o que comprova uma coisa: ao que indica, é possível limpar o traseiro enquanto se usa o celular...Não me pergunte como! Engraçado pensar na reação da pessoa do outro lado da linha: será que ela estava escutando o barulho frenético do papel sendo arrancado? Será que ela podia escutar o barulho de descargas sendo acionadas? O que isto comprova é a onipresença dos celulares inclusive nos momentos mais íntimos e, na linguagem paulistana, ''complicados''...Na outra cena, ocorrida em um banheiro de um restaurante, um sujeito de 50 e poucos anos, entra no banheiro onde eu estava. Eu fui urinar, e esperava lavar as mãos logo após. O detalhe é que ele entrou no banheiro e foi logo lavar as mãos, antes de qualquer coisa. E, APÓS lavar as mãos, entrou no box para urinar...O que me dá uma dúvida: será que ele lavou as mãos NOVAMENTE após fazer as suas necessidades? A resposta eu não sei, pois eu lavei as mãos e fui almoçar. Mas ficou aquela curiosidade sobre alguém que lava as mãos ao ENTRAR no banheiro, e antes de fazer aquilo que todo mundo faz nestes lugares...

Aderindo, tardiamente, às modernidades- o CELULAR!

A esta altura do campeonato, falar sobre a aquisição de um telefone celular não é novidade para ninguém. Sequer mereceria umas linhas. Porém, no que concerne a este que vos fala, trata-se do PRIMEIRO celular. Isto mesmo: resisti a anos de cobranças, de propagandas, de promoções de aparelhos inclusive de graça. Não ter celular, a esta altura, fazia de mim um cidadão ''pré-histórico''. Era constrangedor comprar em uma loja e, na hora de dar o número de telefone fixo, ser bombardeado com a inevitável pergunta: ''mais algum?''( o/a vendedor/a ficava esperando ouvir algum número de celular, enquanto eu respondia simplesmente que era só aquele). Não ter celular me poupou por anos de ter minhas sessões de cinema, almoços, sonecas e outras coisas mais interrompidas pelo som infernal destas geringonças. Um proprietário de celular mais parece um autômato: a prioridade- aqui- é sempre do outro. O celular, no fundo, é a coleira de muita gente: de filhos, para a felicidade dos pais, dos empregados agora com jornadas ampliadas- para a felicidade de seus chefes e patrões, de namorados/as, maridos/esposas- para a alegria de seus parceiros. É de admirar que um aparelhinho tão infernal, e ruidoso, tenha conquistado a adesão entusiástica de tanta gente em tão pouco tempo. Fala-se agora em permitir celulares a bordo de aviões(?!!!)- será o fim do nosso sossego...Mas tantas propagandas disfarçadas acabaram plantando em minha mente a semente da dúvida: por que não incluir nestas ''breves'' postagens algumas imagens daquilo que estou falando? Isto, e a ilusão de que EU conseguirei prosseguir com minha vida própria sem ser interrompido por conversas irrelevantes de pessoas que poderiam muito bem mandar uma mensagem por email, me levou a adquirir uma destas geringonças infernais- vendidas a um terço do preço ''oficial'' graças à adesão a um plano qualquer que pagaremos fielmente e do qual provavelmente utilizaremos um terço, ou menos...''VOCÊS'' venceram...Mas, junto com o celular, resta a esperança de que se disseminem aqueles pequenos aparelhos capazes de bloquear todos os celulares em um raio de ''tantos metros''. Quem sabe, assim, poderemos um dia todos comer em paz, assistir um filme, ler um livro sem sermos travados pelos infernais toques dos celulares. PS: Desculpem-me, mas tenho de interromper este post para atender uma ligação...!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Em defesa dos shopping centers(?!!!)

O tom dos artigos de escritores, no que se refere aos centros de compras, é sempre negativo. Eles mal ocultam o desprezo por estes ''monstrengos'', cada vez mais presentes na vida dos brasileiros. Só este ano já inauguraram um em São Paulo- ''Shopping Bourbon''- e em maio é prevista a inauguração de outro( ''Cidade Jardim''). Mas ,antes de expor a minha tese sobre o assunto, alguns breves comentários: desde o último sábado, a metrópole tem um novo cartão postal. É a ponte ''estaiada Otávio Frias''( pelo que li, embora ache estranho que a Avenida Roberto Marinho acabe na Ponte Otávio Frias, uma estranha junção de concorrentes que a vida real não foi capaz de produzir...). Da altura de um prédio de 46 andares, tem uma forma em curva interessante para uma ponte. É sustentada por gigantescos cabos amarelos. E já virou a nova vedete dos programas locais da TV Globo, situada nas imediações. A Globo criou um estúdio em frente à ponte, que será agora o fundo dos programas Bom Dia SP, e SP-TV Primeira e Segunda Edições. Segundo nota da imprensa foi ''complicadíssimo''- para usar um termo bem paulistano- adaptar os programas à iluminação natural vinda de fora . Mas a empreitada está dando certo. Este outono paulistano, por outro lado, está com uma cara de inverno...Há mais de uma semana a temperatura vem oscilando entre 20 e 21 graus, com uma massa de ar polar vinda do Sul. O resultado são dias ás vezes ensolarados, sem nuvens no céu, mas um frio bem forte- que faz com que as pessoas tenham de tirar seus agasalhos dos armários- e outros dias cinzentos, mas secos, sem chuva. Este assunto me leva a abrir outro parêntese. Já escrevi alguns textos em que falo do quanto gosto do frio, e de lugares frios. Mas também há duas espécies de frio: um exterior, que mal percebo quando estou em movimento/ caminhando pelas ruas desta cidade. Nesta hora chego mesmo a transpirar, sentindo um estranho calor...Mas, dentro dos apartamentos, em especial deste onde moro, o frio se acumula, e é manifestado com uma força peculiar. Aqui dentro admito que, se não me agasalhar adequadamente, sinto frio mesmo. O frio se manifesta no chão, e nas paredes. Somos obrigados a fechar a porta da cozinha, para não deixar um corredor de ar frio circulando pelos ambientes. As laranjas que compro e deixo na cozinha parecem, pela manhã, ter estado em um freezer...Falando em frio, sabiam que, segundo pesquisas, sentimos cerca de 40% do frio na cabeça- que merece um especial cuidado? No entanto, com estes comentários todos, não estou me queixando de frio. Muito pelo contrário. Estou efuziante por estes dias todos com uma temperatura, para os meus padrões, bem agradável. Minha reclamação é bem outra: quando entramos em lojas, restaurantes ou shoppings o ar condicionado, lá dentro, fica desligado. Isto dá um choque térmico tremendo. Ao entrar e ao sair destes ambientes. Por isto, e não pelo suposto frio externo, minha saúde anda meio cambaleante por estes dias. Espirro. Procuro tomar bastante café, chocolate quente e sucos de laranja para não sucumbir a uma gripe que me ronda. E, já que estamos falando em shopping centers, vamos, enfim(!), ao tema deste ''post''. Da utilidade dos shopping centers. Uma ressalva: meu apreço pelas cidades do Sul do país, em especial Curitiba, vem do fato de que, nestes lugares, ainda há um comércio de rua forte. E eu não troco uma loja de rua por nenhum de seus similares nos shoppings, fique claro. Nos sábados, a curitibana ''Rua das Flores''- fechada para os automóveis por iniciativa do ex-prefeito Jaime Lerner- é tomada por uma multidão. Registre-se aqui a presença da chamada ''Boca Maldita'', trecho da rua com bares e cafés onde as pessoas costumam conversar e polemizar. Artistas de rua, inclusive com instrumentos andinos, costumam se apresentar para os passantes. Outros artistas vendem os seus quadros. Vendedores das lojinhas usam alto-falantes para anunciar as suas promoções. Idosos sentam-se nos banquinhos da rua. Canteiros de flores foram instalados por toda a extensão da rua, e este é o motivo de seu nome. Há um bondinho desativado, característico de outra época. Pessoas tiram fotos junto dele. As famosas lojas de departamento, de que já tratei em outro ''post'' , também tem seu lugar nesta rua. E não esqueçamos da bela filial das ''Livrarias Curitiba''( lá em Floripa elas se chamam ''Livraria Catarinense, com uma ótima matriz de 4 andares no centro da cidade). Em suma, este contato com o centro das cidades eu não troco por coisa alguma. Mas vamos aos shoppings. É costume maldizer os shoppings, estes ''monstrengos'' de ode ao consumismo. E o papel dos shoppings não é mesmo muito nobre não: quase todos eles, em especial os mais antigos, tem o objetivo de fazer com que as pessoas percam a noção do tempo. Por isto, são fechados e escuros- funcionando à base de luz artificial. Após umas duas ou três horas em um shopping, eu fico exausto. Cansado de tanto barulho, tantas ofertas, tantos apelos comerciais, tantos esbarrões pelos corredores. Mas, por outro lado, foi aqui em São Paulo que aprendi a apreciar os shoppings. Desde a época em que ainda não morava aqui, era programa obrigatório visitar um meio distante, por um motivo especial: no shopping Villa Lobos foi criada a primeira Livraria Cultura de shoppings...Por aí você já entende como, na minha cabeça, eu consigo conciliar toda a chatice destes centros de compras com a sua maior utilidade. Praticamente todos os shoppings criados nos últimos tempos tem uma livraria de âncora. O Shopping Paulista, recém-ampliado, ganhou uma megastore da Saraiva( com café e tudo). O Morumbi Shopping, que fica ao lado de outro shopping( o Market Place) é o meu ''Triângulo das Bermudas'': esta região reúne dois cafés excelentes( Starbucks e Suplicy)e TRÊS de minhas livrarias favoritas: Cultura( no vizinho Market Place), Fnac e Saraiva. Uma simples visita a este ''Triângulo das Bermudas'' leva horas...Horas de muito prazer e alegria, diga-se de passagem. Dirão vocês: e os shoppings? Os shoppings são o plano de fundo. Agradeço a eles o prazer que me proporcionam juntando as coisas que mais gosto. E, admitamos, não é nada desagradável dar, se sobrar tempo, uma olhadinha pelas outras coisas. Por uma Americanas, ao lado de uma loja de grife...Basta termos a mente aberta para novas descobertas. Mas cuidado com a voracidade dos vendedores( de shoppings ou não...)Os shoppings, e é por isto que ainda os toleramos, pretendem- e ainda bem que este é um projeto irrealizável- juntar TODOS os comerciantes em um só lugar, para ''facilitar'' a vida dos consumidores( que, na rua, teriam de ir a diversos lugares distantes entre si). Diga-se de passagem que mesmo o recém-inaugurado Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, preocupou-se em abrir espaço para uma Megalivraria( Livraria da Travessa). Está justificado, pois...Na minha cabeça, é a conclusão, os shoppings se justificam- ou nao- por suas livrarias. Que surjam muitos shoppings, então. E cada vez mais livrarias...O país anda precisando muito de cultura( e de cada vez mais Livrarias Cultura)...PS: São Paulo consegue fazer esta junção muito bem, a de excelentes Livrarias e Cinemas de rua, com seus similares de shoppings. Na minha cabeça, repito, estas coisas não se excluem. E por que haveriam de excluir-se??? Da rua entro nos shoppings, e saio como se tudo isto fosse uma coisa só. O que está errado não é a existência, ''por si só''( para usar um termo bem apreciado e disseminado no meio jurídico), dos shoppings. O que está errado é pensar no shopping como um lugar de ''refúgio'' dos perigos externos. É esta ''mentalidade de cerco'', esta paranóia que é manipulada para construir cada vez mais condomínios e shopping centers para ''refúgio'' de uma classe média amedrontada pelo noticiário, é isto que está errado. Na minha cabeça, na minha mente, entro e saio de ruas e shoppings como se fossem uma coisa só, um o prolongamento do outro. E USO os shoppings para ter acesso ao que me é mais precioso: as livrarias...Faz sentido? Para mim faz...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Várias alegrias, uma decepção...

A decepção eu conto logo. Sou leitor assíduo da ''Gazeta do Povo'', de Curitiba. Leio o jornal pelo menos uns 4 dias na semana, em especial aos domingos. Pois justamente no dia da notícia mais aguardada do ano- a do título do Coritiba, em plena Arena da Baixada lotada de rubro-negros- os meus vendedores de jornal paulistanos me comunicaram que ''não haviam recebido o jornal''. No dia seguinte, a mesma notícia. Mesmo lendo pela internet, ficou um certo gosto de decepção- que não tira o mérito do título coxa-branca. Os leitores habituais deste blog sabem que sou são-paulino. Mas isto não me impede de ter várias ''simpatias'' estaduais. A simpatia pelo coxa surgiu meio que por exclusão: eu não aguentava mais ouvir, ao chegar a Curitiba, o mesmo comentário sobre a final da Libertadores vencida pelo São Paulo: ''se o primeiro jogo tivesse sido disputado na Baixada(ao invés do Beira-Rio)as coisas teriam sido diferentes''...Relembremos que o São Paulo empatou o primeiro jogo, em Porto Alegre, e venceu o segundo por 4X0 no Morumbi lotado...Estes comentários foram me antagonizando com o rubro-negro paranaense. Que, diga-se de passagem, tem o estádio mais moderno do Brasil, e é um clube muito forte. O coxa, ao contrário, é um clube perdido no tempo: tem um estádio antiquado e desconfortável. A principal torcida, a mais animada, fica- como em Florianópolis- atrás de um dos gols. É um lugar péssimo, um verdadeiro castigo para os bons torcedores. O time andou patinando nos últimos anos, perdendo a hegemonia que havia conquistado no Paraná. Caiu para a série B. Levou dois longos anos para subir. Por incrível que pareça, foi justamente na série B que o meu contato com o Coritiba foi se reforçando. Os jogos do Coxa, pelo Sportv e pela Rede TV aos sábados, eram uma forma de estreitar os laços com um lugar que eu gosto, que ocupa um lugar especial no meu coração. Em outros lugares, com um calor de ''rachar'', era legal observar aqueles torcedores todos com gorrinhos, cachecóis, casacos...Tiritando de frio... No primeiro ano o Coritiba fez uma bela campanha, e patinou na reta final. Voltou mais preparado. Na segunda temporada na série B não conheceu adversários. Classificou-se com antecedência. CONQUISTOU o título da série B em um jogo sensacional em Recife contra o Santa Cruz. Enfim, uma jornada épica. Este ano, por iniciativa do Atlético Paranaense, que não aceitou o acerto dos clubes com o Sportv, as duas partidas da final não foram sequer transmitidas para o Paraná. O Atlético-PR tentou cobrar uma fábula das rádios para transmitirem os jogos e, sem a autorização do Coritiba, montou uma TV própria para transmitir as partidas. Imagino como devem ter encerrado a transmissão do segundo jogo, na Arena...Só tivemos acesso, como nos velhos tempos, aos gols. O resto, foi o que acompanhamos pelo jornal. Os comentaristas, a empolgação pelo golaço de Carlinhos PARAÍBA no primeiro jogo, o gol estranho de Henrique Dias que liquidou a reação do Atlético na Arena. Esta foi outra decepção: acompanhar uma final sensacional à distância, vendo a modorrenta final do campeonato paulista, sem poder ver sequer os melhores momentos do Atletiba do século...No meio da semana, mudando um pouco de assunto, os torcedores dos outros times cariocas tiveram um presentaço inesperado, com aquele ''mico'' do Flamengo contra o América do México. Sua alegria é jocosamente descrita como ''gozar com o p...dos outros''. Pois ontem o Coritiba, equipe pela qual já disse que sinto uma enorme simpatia- uma vez que, em qualquer Brasileirão minhas atenções estarão voltadas exclusivamente para o tricolor paulista- deu aos demais torcedores de São Paulo( que não torcem para o Palmeiras)um ENORME GOZO. Foi simplesmente SENSACIONAL ver o ''grande'' Palestra de Luxemburgo, cotado por todos os comentaristas como um dos principais favoritos do Brasileiro-2008, tomar um OLÉ dos coxas-brancas em pleno Estádio Couto Pereira. Sequer os torcedores mais fanáticos do Coritiba esperavam ver uma partida tão boa por parte da brava equipe paranaense. O time comandado por Keirrison, Pedro Ken e, como esquecer, o futuro jogador da seleção brasileira Carlinhos Paraíba, MASSACROU o verdão paulistano. E as estrelas do espetáculo acabaram sendo os reforços Hugo e Michael( este destaque do Guaratinguetá no Paulistão). Eles literalmente PASSEARAM pela grande área do Palmeiras. Até Denílson, vejam só, ficou indignado com os olés que estes meninos prodígios aplicaram em seus marcadores...O Palestra saiu até NO LUCRO por ter perdido por apenas 2 X 0...Claro que ainda é muito cedo para apontar favoritos ao título. Se o Palmeiras está assim, imaginem o resto...A julgar por esta estréia, a conclusão é que o Coritiba voltou para a Série A, de onde nunca deveria ter saído, mais forte do que nunca. E seu treinador Dorival Júnior, que passou quase que todo o Paranaense explicando que a equipe ainda não ''havia entrado nos eixos'', agora vai ter um trabalhão danado para conter a natural euforia que começa a tomar conta da torcida coxa-branca. Parabéns, Coritiba! Obrigado( de são-paulinos, santistas e corintianos...)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nós e os outros

Embora este fato possa ser revoltante para muitos, o fato é que podemos comparar a nossa relação com as outras pessoas com a de veículos em um imenso engarrafamento. Ou seja, não possuímos o menor controle sobre as ações dos demais. Eles estão apenas dirigindo- bem ou mal, não importa- os seus próprios carros. Nós SÓ temos controle sobre o nosso próprio automóvel...Não ter conhecimento disto causa sofrimento, uma dor igual ou maior do que o número de veículos neste engarrafamento todo...Pense no trânsito de uma grande cidade qualquer: muitos estão apressados, atrasados. Acendem os faróis, buzinam( e como buzinam aqui em São Paulo, de dia e de noite!), param os carros sobre as faixas de pedestres como se isto fosse projetá-los, acelerá-los de algum modo. A qualquer sinal de que alguém está agindo de modo ''errado'', na cabeça deles, seja este ''errado'' desde andar em outro ritmo até dar uma fechada, e a ''vítima'' já sai dando patadas. Berra, mostra o dedo médio, manda para ''aquele lugar''. ''Afinal, você está falando do trânsito ou da vida humana?", vocês devem estar se perguntando. Estou tratando dos DOIS. E vejam como são parecidos: a vida é passageira( no trânsito todos pensamos que estamos no comando de nossos carros possantes último tipo, mas somos apenas passageiros- sem o menor controle do que está ao nosso redor...), os cenários estão sempre mudando, por menor que seja o ritmo da viagem ( tal como na vida, onde nada é igual- por mais que imaginemos ser aquela ''mesma pessoa'' de sempre), o ''inferno são os outros'', certo? se todos se comportassem ''bem''- como você, por exemplo- muito sofrimento seria poupado: mas tudo é ''complicado'' ( expressão típica paulistana, objeto de outro ''post'' anterior): há o seu marido/esposa que ronca, o seu filho roqueiro que insiste em ouvir a todo volume aquele mesmo disco ''heavy metal'' quando você só quer descansar, o cachorro do vizinho que late a qualquer hora do dia, o seu patrão- ou os seus empregados, se você é o patrão- sem contar os diversos ''outros'' que você encontra durante o dia( no trânsito é tudo igual, só que os ''outros'' estão dirigindo outros automóveis- mas todos parecem dispostos a ''atazanar'' a sua vida, em uma imensa ''conspiração'' universal...). Estas são as estórias que nós vivemos, ou que vemos nos filmes e livros. A vida humana inteira é gasta com estes assuntos e, quando nos damos conta, já chegamos ao ''fim'' ( de uma jornada apenas, para os que crêem- como eu- na reencarnação). A vida é um imenso trânsito, um engarrafamento perpétuo. E o que faremos com isto? Como desatar este gigantesco NÓ? Por mais lamentável que seja, a conclusão aqui é uma só: você é responsável- somente pode interferir, controlar- apenas pelo SEU veículo. Você não tem o menor controle sobre o resto, nem pode ter hoje ou nunca. A única saída é deixar, soltar o resto. Cuide bem do seu veículo, do que faz com ele. É dele que você irá prestar contas um dia. Olhe para dentro, e não para fora. E, afinal, se todos fizéssemos isto bem- apenas cuidar do nosso veículo, dirigindo-o da melhor maneira que pudéssemos- o mundo estaria bem melhor, não?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fases da Vida

Nós passamos uma existência inteira aprendendo, e consolidando as ''nossas'' idéias. E, quanto mais convictos estamos de sua correção, maior a tendência a comparar-nos aos ''outros''. Porém, se há uma peculiaridade no que concerne ao aprendizado, é justamente o fato de que este não é cumulativo. Não se trata de agregar mais coisas aos nossos conceitos tradicionais. O aprendizado, a meu ver, assemelha-se a uma PERDA, um DESPRENDIMENTO. Como os antigos homens das cavernas, passamos uma existência inteira escrevendo e desenhando coisas nas paredes. Isto é o que julgamos importante, é o nosso ''saber''. No entanto, só demonstramos um início de verdadeiro conhecimento quando temos a súbita vontade de pegar uma picareta ou um martelo para destruir tudo, demolir tudo o que está na caverna. A caverna simboliza tudo o que está entre nós e a realidade, tudo o que nos impede de viver a vida como ela é- sem falsas racionalizações...A caverna não é real, não pode ser perdida. Ela é tão concreta quanto os nossos pensamentos, aqueles que vem e vão incessantemente. MENOS É MAIS no que se refere ao aprendizado. Na primeira fase de minha vida, tratei exclusivamente de buscar a ''verdade''- pelos mais diversos meios. Uma ''verdade'' que se contrapunha ao que era ''falso'', ''errado''. Por isto, quanto mais jovens somos, mais somos ''críticos''. Este blog marca a transição para uma nova fase em minha vida. Caso fosse possível escrever um blog há 20 anos, este teria um outro tom. Subitamente, percebi que estou ficando menos discriminador e mais descritivo...E já houve, por incrível que pareça, uma fase em que eu abominava tudo o que era descritivo demais: as obras de Proust, Henry James, etc. Tudo isto era, para mim, ''maçante'' demais. Hoje, começo a perceber que não há, no que concerne ao mundo das idéias, dos pensamentos, a possibilidade de atingirmos algo concreto, ''incontestável''. Nosso papel, o meu papel neste blog é muito mais o de coletor de coisas que, para mim, parecem belas- e que eu quero compartilhar com ''todo mundo'' ( ou seja, as virtuais 3 pessoas que leiam estes ''posts'' todos...). O REAL, aquilo que É de fato e não ''parece ser'', este está fora da caverna. O blog não passa de uma vã tentativa, um convite para eventualmente deixarmos a caverna por instantes- para ver o que está lá fora. Mas não esqueçam que, ao ler estas fugazes palavras todas, você AINDA está DENTRO da caverna. Que tal pegarmos as nossas pás, picaretas e martelos? PS: Caso você pense que estes objetos são palpáveis, materiais, concretos- e se dirija para a sua despensa, para o sótão da sua casa para apanhá-los- saiba que, por este gesto, você demonstra estar MUITO no interior da caverna, bem no fundo, bem distante da saída...Releia este ''post'' ou, simplesmente, vá para a rua sentir o sol, ouvir o barulho das ondas(caso esteja no litoral) ou o canto dos pássaros. Isto é REAL. Isto está fora da caverna que construímos, e a que dedicamos tanta importância- mas que, na realidade, NÃO EXISTE...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Driblando congestionamentos...

Conheço São Paulo há vários anos. Mais de 20 anos. Qualquer pessoa neste país sabe que São Paulo tem muitas pessoas, e 6 milhões de carros. Mas uma coisa é saber que um lugar é uma metrópole- a maior da América Latina- e a outra é VIVER neste lugar, e CONVIVER com as multidões que pretendem fazer a mesma coisa que a gente na mesma hora...Isto já foi tema de uma ''Veja São Paulo'' ( encarte da Revista ''Veja'' que só circula na cidade)que comprei quando ainda não morava aqui. Até achei graça...Mas saber os horários de pico de qualquer coisa em São Paulo faz parte de um virtual ''Manual de Sobrevivência do Paulistano''- caso este livro existisse...Do metrô lotado praticamente não dá para escapar: as linhas estão saturadas em função de uma medida do Governo do Estado chamada ''Bilhete Único''. As pessoas gostaram, teve seu efeito eleitoral, só esqueceram de ampliar a malha metroviária da cidade- congelada em pouco mais de 60 KM( para comparar, diversas metrópoles do mundo tem mais de 400 KM de metrô, e são até menores do que São Paulo...). Enfim, o metrô está constantemente cheio.Mas pode PIORAR, em determinados períodos. Por exemplo, na Estação Sé às 6 da tarde( acreditem: eu já experimentei isto, sei do que estou falando...Lembra o Metrô de Tóquio, sem os funcionários que, lá, ficam apenas empurrando as pessoas para dentro dos trens...). Ontem, primeiro de maio, foi feriado. E, nos feriados, tradicionalmente milhões de carros e pessoas deixam a cidade, com os tradicionais congestionamentos. Porém, isto não é garantia de que usufruiremos uma cidade vazia. As ruas estão vazias, mas cinemas, shoppings, restaurantes, cafés e livrarias ficam cheios. Vocês não fazem idéia do que é uma fila paulistana de cinema...Ou melhor, das DUAS FILAS paulistanas de cinema. A primeira, e é bom chegar com cerca de meia-hora de antecedência, para comprar os ingressos. Mais angustiante ainda, para quem se programou para assistir um determinado filme, é ficar ouvindo os anúncios pelos alto0-falantes: ''encerrada a venda de ingressos para o Cine 5'', ''encerrada a venda de ingressos para o Cine 3''. Mas digamos que você tenha aguentado a primeira fila, e comprado ''tranqüilamente'' o seu ingresso. Aí começa a segunda fila...Tal como você, centenas de outros espectadores também ouviram falar que o filme do Diretor Tal é uma ''maravilha''. Hoje é a folga deles. Eles vieram também ao shopping, ou ao Espaço Unibanco( cinema que fica na Rua Augusta), ou ao Belas Artes( cinema da rua Consolação) ou ao Cinesesc( também na Rua Augusta), ou ao...E, ao entrar na segunda fila, você se dá conta que 200 destas pessoas já estão na sua frente...A solução para isto abordaremos mais à frente: tenham paciência! Nos restaurantes paulistanos, na hora do almoço, é comum a cena: de 10 a 12 pessoas ocupam uma mesa gigante, e conversam ruidosamente. Em determinados restaurantes, se você chegar após 1 da tarde, a espera é inevitável. Nos finais-de-semana, 2 horas é a hora limite. E aqui, o que parecia um problema encontra a sua solução. Viver em São Paulo, mais do que em outras cidades, requer planejamento, conhecimento dos horários- em especial dos horários de pico. O ''normal'', para todo mundo, é almoçar em torno de 2/3 horas do domingo, e ir para os cinemas. Aí você aprende a viver na contra-mão: você assiste o filme na primeira sessão de domingo, as 13 horas e alguma coisa. A sessão não está vazia: por conta de um convênio com a Prefeitura, dezenas de idosos ganharam direito a meia entrada. Eles ocupam as duas ou três primeiras fileiras do cinema, como um grupo de colegias. Mas idosos não são ''aborrescentes''. Eles são animados, mas sabem se comportar. Algum mais animado é advertido imediatamente por outro com um ''shiii'' bem alto. Eles não ficam comendo pipoca e falando em altos brados como outros espectadores inconvenientes. E aí você percebe como é possível ''driblar'' as multidões, e o quanto isto é necessário para viver em São Paulo...Você sai do cinema, e pensa em almoçar. O horário de pico do restaurante já passou, e apenas alguns retardatários compartilham o lugar- já meio vazio- com você. Os outros já correram para os cinemas...Difícil é driblar a ''concorrência'' no que se refere aos shoppings e às livrarias. Um conselho: se puder, evite-as durante os finais-de-semana ( eu acho isto, mas não consigo resistir à tentação de freqüentá-las qualquer dia...). Nada melhor do que uma livraria durante a semana. Mesmo à noite, em uma terça-feira, os shoppings não lotam- e dá para visitá-los sem atropelo. Sempre gostei da Avenida Paulista, mesmo quando ainda não morava aqui. Mas, para andar na Paulista durante a semana ao meio-dia, por exemplo, você tem de ter muita paciência e gostar demais da companhia de outras pessoas, de MUITAS OUTRAS pessoas. Caso você seja assim, ignore os nossos banais conselhos de como ''sobreviver em São Paulo'': você já está aprovado, com louvor...Que tal um cineminha no domingo, À NOITE???

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Finalmente o frio!

Após uma semana de muito calor, em que as temperaturas ficaram na casa dos 30 graus, ontem elas caíram pela metade. Após almoçar em Higienópolis, e voltar caminhando para a região da Avenida Paulista- devidamente trajado com casaco de frio, é claro- olhei para um relógio de rua e me surpreendi: ele estava marcando 14 graus, e eram 2 horas da tarde...Não era esta a sensação que eu tinha. Embora tenha ouvido aqui e ali as eternas lamentações quanto ao frio, que fiz questão de ignorar, na hora em que entrei na Paulista, em frente ao Conjunto Nacional, eu estava até com um pouco de calor...Explico. Caminhava com um casaco de frio e uma camiseta por baixo. Na verdade, eu não ponho estas roupas de frio por estar com frio. Ponho pela oportunidade de usá-las, e também para não destoar da maioria de ''friorentos''...Curitiba é, até aqui, a minha maior referência de frio. E lá, já cheguei diversas vezes com a temperatura marcando cerca de 16/17 graus. Eu vestia camisa de manga curta, e não senti nenhum frio. A única vez que senti frio, DE VERDADE, foi quando fui fazer um concurso lá, em uma gelada manhã de domingo. As pessoas de outros lugares, acostumadas a bruscas mudanças de temperatura, não imaginam que um dia possa começar em cerca de 10/11 graus, e continuar assim...Este foi o meu erro de cálculo... Cheguei ao local da prova e até brinquei com alguns candidatos vindos de São Paulo, que usavam até uma espécie de gorro na cara. E grossos casacos. E eu ali, sentindo um pouco de frio com a minha camisa de mangas curtas... Tudo bem, eu pensei. Até o final da prova as coisas mudam. Terminei a prova, horas após, e minha tolerância ao frio já tinha diminuído bastante. Agora eu estava com FRIO, REALMENTE, e não havia nenhum táxi ao redor! Resultado: eu andava, e pulava também para aquecer-me. Custei a achar um táxi naquele bairro deserto...Eis o meu ''ponto de frio'', que jamais esquecerei. Sinto frio, de verdade, quando faz cerca de 10 graus. Acima disto, qualquer outra coisa não passa de ''friagem''... Eu boto roupas ''de frio'' porque acho bonito. Todos ficam mais elegantes assim. Recuperamos peças esquecidas, cachecóis, luvas, sobretudos, casacos de lã- notem que não usei nada disto ontem na Paulista...A sensação que temos no frio é que o mundo está assim, todos os lugares estão assim. Nada mais decepcionante do que falar com alguém de outra cidade- no caso Brasília- e ouvir que ''aqui está quente''. Como?!!! Como alguém pode ousar ''quebrar'' a minha prazerosa sensação de ''frio''?!!! Minha tese é que, no frio, o verde parece ainda mais verde. A natureza parece ainda mais viva, parece chamar ainda mais a nossa atenção. Os passarinhos, que ao que nos conta não costumam reclamar da vida ou de tempo ''ruim'', continuam a cantar, com toda a alegria que lhes é inerente. O tempo parece em estado de suspensão, com toda a sua brancura( ou ''cinza'', para os que não compartilham estas idéias...). A sensação de ''frio'', de um pouco de frio, me arrepia a pele- dando-me neste instante a breve ilusão, a certeza de estar ainda mais VIVO. Nem que seja, ao ouvir alguém praguejando contra o ''frio'', para subitamente ter a idéia de cobrir-me um pouco mais com uma manta para escrever estas breves linhas de louvor aos dias frios...

In Memoriam...

Em outro ''post'', eu afirmei que não podemos nos apaixonar por algo que não conhecemos. Podemos gostar desta coisa, desta pessoa. Mas paixão não dá. Também não podemos, ao revés, chorar a perda de algo que não sabíamos que havia acabado. Lamento aqui, neste momento, a ''morte'' dos astronautas norte-americanos ''Tony Neumann'' e ''Doug Phillips''. Os dois foram vistos pela última vez no seriado ''Túnel do Tempo'' que, segundo soubemos pela leitura breve em uma livraria paulistana do ''Almanaque dos Seriados'', só teve uma breve temporada e foi cancelado por falta de audiência. Enquanto não sabíamos do cancelamento da série, em 1966(!), sempre havia uma esperança de achar algum dia uma caixa de DVD's com umas duas ou três temporadas de ''Túnel do Tempo''. Agora, não há mais esta esperança. Choremos, pois...A série foi criada pelo genial produtor Irwin Allen, que também concebeu ''Viagem ao Fundo do Mar'', ''Jeannie é um gênio'' entre outras. Nós, que tivemos o privilégio de assistir ''Túnel do Tempo'' por aqui na TV aberta nos anos 70, lembramos de algumas características marcantes daquele programa, que marcou a nossa infância: a base de onde os dois astronautas foram lançados ficava no subterrâneo de um deserto. Tinha muitos andares, e eles eram obrigados a deslocar-se através de um elevador. Os computadores eram todos, nas séries daquela época, uns ''mainframes'' gigantescos. Acho que ''tamanho era documento'' na computação daquela época...A abertura em que eles entravam para viajar pelas eras ficava girando, de modo hipnótico. E, durante as viagens, eles vagavam em meio a uns cristais psicodélicos- talvez criados por algum ''doidão'' movido a LSD daquele período...A série, informa-nos o autor do ''Almanaque dos Seriados'', era barata. Utilizava imagens de arquivo dos estúdios. Mesmo assim, ao final da primeira temporada as idéias foram ficando raras. Bem como as verbas do estúdio, que propôs mais alguns cortes. Irwin Allen não aceitou, e nós ficamos definitivamente sem aquela maravilha...Se eu morresse agora, e fosse possível dissecar as imagens que ficaram na minha mente, certamente encontrariam várias referentes ao ''Túnel do Tempo''. Uma vez que não é possível adquirí-la na Amazon, assim como os episódios de ''Terra dos Gigantes''( outra série legal daquela época), resta a nós conformarmo-nos com as caixinhas de ''Perdidos no Espaço'' e ''Jornadas nas Estrelas'' que não nos cansamos de rever...Tony e Doug ficaram definitivamente perdidos no tempo...Não mais foram vistos, e sequer resgatados por seus companheiros. Mas não ficarão jamais perdidos na nossa memória. Quem sabe não os reveremos algum dia em alguma lojinha especializada em séries antigas? Enquanto isto, choramos a perda- ou melhor, a descoberta desta perda- de uma série que acabou em 1966...